[FILMES EM DEBATE] - Mãe! (com SPOILERS) na página 7 !!!

Eu quero rever com mais calma, em um dia tranquilo. Não é um filme fácil, nem por isso ruim.

Na minha opinião, é um grande experimento visual na forma de cinema, provavelmente o maior que o Lynch já fez.
Muita gente ficou buscando um significado secreto quando a explicação é a mais simples:
É tudo um sonho.

Aguardo ansioso o texto do Broo.

Também acho que era tudo um sonho.

Eu tive uma interpretação um pouco diferente. Não era exatamente um "sonho" no sentido literal, mas no sentido figurado. A primeira realidade é uma realidade que mostra a vida que a personagem da Naomi Watts desejava (o sonho) ter e depois têm a virada em que ela passa a ter que viver a realidade novamente. A cena do teatro pra mim é quando essas realidades colidem e elas entendem que ambas co-existem de certa maneira.

Foi o primeiro filme do Lynch que assisti e me tornou fã do cara. Depois que você entende o diretor e para de tentar racionalizar tudo, o s filmes dele ficam bem mais interessantes.

Antes de dar minha interpretação do filme, vou tentar explicar pq eu gosto dele (embora boa parte do motivo esteja ligado à essa interpretação).

O que eu mais gosto nesse filme é a quantidade de camadas que ele tem e o desafio que ele propõe pro espectador. Diferente do "cinema entretenimento", que mastiga e entrega as informações de maneira didática pra que o espectador possa se desligar frente à uma realidade ordenada, controlada e simples, o David Lynch faz o contrário em Cidade dos Sonhos. Ele convida o espectador a decifrar o processo criativo do filme. Se o espectador estiver disposto, pode ter uma experiência incrível, mas trabalhosa. Na minha opinião, recompensadora.

O grande desafio de Cidade dos Sonhos é o exercício constante de resignificar as coisas que estão acontecendo.

Em um filme padrão, as cenas vão adicionando informação sucessivas e preenchem um sentido total, cronológico. Em Cidade dos Sonhos, não se trata da soma progressiva. Cada cena resignifica o que foi visto até agora e, inclusive as próprias cenas, são resignificadas enquanto acontecem (exemplo: a pessoa cantando no rádio/abre a câmera: estúdio de rádio montado em uma paisagem/ abre a câmera: a paisagem é um painel em um estúdio). Isso exige uma mente ativa, diferente da passividade dos filmes mais tradicionais.

A beleza do filme, na minha opinião, tá na monstruosidade simbólica do filme. Por ser um diretor surrealista (ou neo-surrealista), é sempre sobre símbolos e a melhor maneira de lidar com eles é (desde Dali e Buñuel) o sonho.

A maior parte do filme é, de fato, um sonho e o q resta não é exatamente realidade, mas os fatos a partir da perspectiva da personagem.

A trama, de modo cronológico (e simplificado), é:

Diane recebe uma herança da tia e vai pra Los Angeles tentar a carreira de atriz. Eventualmente ela faz o teste pra um filme e é rejeitada pelo diretor, que escolhe a Camilla pro papel. Apesar disso, Diane e Camilla viram amigas e amantes.

Em um certo momento, a Camilla se envolve com um diretor de cinema que dá uma festa e convida Diane. Nessa festa, o diretor anuncia o casamento dele com a Camilla. A Diane, então, decide contratar um assassino pra matar a Camilla.

O assassino recebe 50mil dólares e combina com a Diane que, uma vez que o serviço estiver completo, ele sinalizaria com uma chave azul em seu apartamento, que ela recebe. Sentindo-se culpada, ela dorme e tem um longo sonho sobre tudo isso: o filme começa AQUI. Em algum momento ela acorda e, remoída pelo remorso, comete suicídio.

No sonho, Diane é Betty (uma projeção do q ela pensa de si mesma) e Camilla é Rita (uma projeção do q ela gostaria que a amante fosse). Todas as situações do sonho são alegorias/símbolos dessa trama que se desenrolou antes desse sonho de culpa. Vários personagens do "mundo real" migram de uma forma bizarra (surreal/inconsciente) para o momento do sonho.

Vale apontar que, além de as cenas não serem cronológicas, misturando momentos do sonho com momentos de "realidade" e algumas alucinações. Tem, inclusive, cenas que são sonho DENTRO do sonho (chupa Nolan!). Outro ponto importante é que a "realidade" não é confiável, pq ela é mostrada a partir da perspectiva (subjetiva) da Diane, então alguns fatos podem ter um filtro de interpretação da própria personagem (em momentos que ela se sente humilhada, por exemplo).

Enfim, são mil camadas e milhões de referências e essa riqueza toda me fascina de verdade. Dá pra falar por horas sobre o filme e apontar cada curiosidade bizarra no desenrolar do filme (o que é a caixa azul, o papel do cowboy, quem é a mulher morta na cama, o casal de velhinhos e até pq o mafioso cospe o capuccino). Além das alegorias extra-filme, como a opressão dos estúdios hollywoodianos e dessa visão comercial do cinema sobre as obras e artistas/mentes criativas, o cine-autoretrato do Lynch na figura do diretor Adam Kesher e tantas outras coisas.

Fiquei interessado nesse filme. Nem li o texto do Broo para não ler spoiler.
Vou assistir e só depois volto a este tópico.

Acabei de assistir. Concordo que foi tudo um sonho e com essa cronologia do Broo mas achei o filme um pouco chato. 2 horas e meia de filme e só na última meia hora consegui gostar realmente. Já para não falar que tem cenas e atuações bem constrangedoras. Por vezes fiquei até pensando que foi propositado. A atriz que interpreta a Camila/Rita por exemplo é horrível.

Quanto ao simbolismo do filme essa é a parte que realmente gosto, só tenho pena que tenham gasto 2 horas de filme com situações pouco interessantes.

poxa, Broo
que explicação bacana
estava viajando e não deu tempo de assistir para debater aqui...Vi faz tempo, mas percebi que preciso rever hehehe

Muito massa mesmo essa análise do Broo.
Eu tenho assistido cada vez mais coisa do Lynch, e é engraçado como a gente vai entendendo os filmes dele à medida que a gente vai adquirindo repertório. Veludo Azul, Homem Elefante, Twin Peaks, Cidade dos Sonhos.. de algum jeito, todos meio que seguem a mesma lógica.
Uma das principais coisas que tem que se ter em mente pra curtir os filmes é saber que o cara era pintor antes de ser diretor, e ainda é. Então a parte visual e simbólica dos filmes dele acabam valendo mais do que a simplicidade do roteiro.
O último episódio de Twin Peaks (8º da nova temporada) é um claro exemplo disso. Na minha opinião, a maior obra de arte já feita em uma série de TV. Recomendo que assistam o episódio solto, mesmo quem não viu a série, sem o comprometimento ou a pretensão de entender nada do que está acontecendo.
Sério, é um outro nível.

Não me resta dúvidas de que o filme inteiro é uma alegoria fantasiosa de uma tragédia traumática.

O Nolan deveria aprender como escrever mega twists como esse de A Vida de Pi. O filme é uma coisa antes, tudo funciona, e ele é praticamente suficiente. Aí no final do 3º ato, uma cena ressignifica o filme todo por completo sem lançar mão da lógica ou da coerência (verossimilhança).

Filmaço.
Acabo lembrando disso apenas quando revejo, já que a maior parte dele parece uma fantasia surreal (com um menino e um tigre em um mesmo bote). Mas o final do filme é glorioso,
mostrando como a religião ou uma fé podem ajudar as pessoas a passarem por momentos difíceis e assim encontrar uma explicação, que pode fugir da compreensão natural.

Também vejo o filme como uma "experiência religiosa" do personagem.
Mas adoro e acho sensacional a teoria de que cada animal representa um personagem.

O filme deixa o final bem aberto dependendo da fé de cada um. Enquanto céticos entendem que os animais representam as pessoas, outros mais crentes tem a opinião de que realmente eram os animais e ocorreu esse "milagre".

Mas que independente disso, aconteceu. Ele foi salvo.
A opção de cada um em acreditar ou não na história dele acaba sendo secundário ao fato de que o Pi sobreviveu a algo que parecia impossível.

Quando assisti o filme, pra mim não tinha dúvidas que o tempo todo a história dele era uma metáfora para os acontecimentos que ocorreram no barco.

Zell escreveu:Quando assisti o filme, pra mim não tinha dúvidas que o tempo todo a história dele era uma metáfora para os acontecimentos que ocorreram no barco.

x2

Também não vi duplo sentido.

Leo_Rossi escreveu:O filme deixa o final bem aberto dependendo da fé de cada um. Enquanto céticos entendem que os animais representam as pessoas, outros mais crentes tem a opinião de que realmente eram os animais e ocorreu esse "milagre".

eu achei isso.
quando terminou o filme, acreditei que aquilo tudo tinha ocorrido sim...
nem cogitei que os animais poderiam corresponder a algum humano.

Também acreditei na história contada.
A meu ver o filme não deixa 'pistas' sobre qual a versão verdadeira,é simplesmente uma questão de escolher um lado.

Exatamente. No livro (o filme é uma adaptação) isso é melhor abordado. A ideia é de que Pi realmente viveu todo aquele lance com o Tigre, mas vendo que ninguém ia acreditar nele (lembrem-se que ele repetiu a mesma história várias vezes no hospital), ele adaptou pra algo mais pé no chão. Daí vai da fé de cada uma acreditar no que quiser, essa é a ideia.

Se tiverem interesse...

Eu vejo o filme como um amontoado de premonições que podem vir ou não a acontecerem.
Mas falar que eu entendi é sacanagem, não mesmo, e isso não me incomoda já que o que eu acho que ocorreu já me bastou.

acabei de assistir, nunca tinha visto.

Tudo pode ter sido um sonho do Donnie, e o filme seria todas as consequencias q ele e os proximos sofreriam, o que faz ele optar pela própria morte, diante de toda tragedia que iria ocorrer.

A pergunta que fica é q a turbina pelo sonho cai do aviao da mae e da irmazinha. Se ele nao levanta, e sua irma e mae tao vivas, de onde vem a turbina...

http://www.donniedarko.org.uk/explanation/