[FILMES EM DEBATE] - Mãe! (com SPOILERS) na página 7 !!!

Eu não consigo ver outra.
E nessa entrevista aqui o Aronofsky detalha como imaginou o projeto:

Smith escreveu:Só eu consigo enxergar uma interpretação não religiosa pro filme?

eu tb achei que dá para ter uma interpretação não religiosa sim.
até escrevi no meu comentário do filme que seria uma visão feminina de uma mulher que colocava o marido em primeiro lugar
e que aqueles eventos refletiam a dor dela em não ser amada como esperava ser
a questão do reinício, aparecendo uma nova atriz no final, representaria ela mesma (por mais que seu comportamento ocasionalmente permaneça igual, as marcas ficam, então ela mudou de alguma forma)

Foi quase isso que interpretei, Lena. Com a diferença que eu acho que a mulher do final é na verdade outra mulher mesmo. O homem vai trocando de mulher e consumindo o amor de todas elas.

E o pó amarelo, qual a interpretação do que ele representa ?

Eu não tenho opinião sobre isso, mas achei isso aqui:

https://jovemnerd.com.br/nerdnews/as-muitas-alegorias-de-mae-e-seus-significados/

é...não tenho a mínima ideia do que representaria aquele pó amarelo....
ela tomava aquela misturinha para se acalmar, deixá-la centrada em momentos de pertubação, né
interessante que quando ela engravidou, o jogou fora.

Acho que o filme tem diversas camadas, mas a mais óbvia é a interpretação bíblica.
Por isso nos créditos, só o Ele está em maiúsculas. O poeta é Deus, e ele está tentando criar sua obra. A mãe é o mundo, criado por Deus, mas com o qual ele não se importa muito. A casa reresenta a própria mãe, e por isso elas compartilham o mesmo coração. Fora de lá, existem as trevas e o fogo. Adão e Eva chegam ao mundo, e acabam desestabilizando tudo o que existia, enfurecendo a Terra e empolgando Deus. Até que eles invadem o escritório, o "fruto proibido", e são expulsos de lá. Cain mata Abel por ciúmes, e ganha a marca na testa. O funeral representa a depravação humana, a qual a mãe-terra acaba com o "dilúvio" da pia. Todos saem da casa, é a 1ª extinção. Até que Deus resolve ter seu filho. Ele também escreve suas escrituras sagradas. A criança nasce, é reverenciada e, consequentemente, destroçada pela multidão, que a devora. É a ideia de comer o corpo de Cristo, a hóstia daqueles mesmos fieis culpados por sua morte. A mãe-terra é então agredida, destroçada por nós, humanos. E cabe a ela destruir essa praga que somos nós. O Apocalipse. No fim, Deus reconhece as falhas dessa mãe-terra, e a destrói, a fim de recomeçar tudo do zero. E nasce a nova mãe.

Também gosto muito da representação do Criador.
Todo artista, escritor, músico, pintor, é Deus em sua obra. E o ato de criação é o de tentativa e erro. Se vc percebe que não está funcionando, o jeito é amassar o papel e jogar no lixo, tentando um outro caminho.

Enfim, um filme foda, com um timing espetacular, que serve não só de alegoria à criação (e consequente destruição) do mundo, mas tbém do papel do artista criador como Deus em sua própria obra.

PS: quem não lembra da participação do Morrison em Homem-Animal?

Antes de ler outras interpretações do filme, meu primeiro entendimento foi que o filme funcionava mesmo em duas camadas. A primeira, mais óbvia, são as alegorias bíblicas. O que é cada personagem só fica realmente claro no final, com o poeta se posicionando como Deus e a mãe, na minha interpretação, por momentos era Maria (no momento mais óbvio da vinda e morte de Cristo), por outros era a própria Terra. Ai temos Caim e Abel, uma alegoria bem clara e outras que durante o filme me escaparam, como a entrada do casal no quarto e a quebra do coração (pecado original?) e o "dilúvio" que agora que o Branca citou, faz sentido.

Mas pra mim tem outra camada que só funciona no nível de relacionamentos interpessoais e humanos. Eu vejo o desejo do Poeta de ser reconhecido, ser amado, e como a mãe não consegue lidar com a "fama" dele, o fato de outras pessoas fazerem parte da vida deles e ela não ter ele só pra ela. Também imagino ela entrando neste mundo de fama, dinheiro e festas além da vontade dela, e como a vida dela passa a ser dos outros por que ela é a esposa dele.

Então enquanto o filme tem essa camada religiosa e por vezes até ecológica, também vejo uma crítica à fama, a sociedade que adora celebridades e como isso afeta as pessoas ao redor delas.

Como interpretou o remédio amarelo em pó Zell ?
E por que ela o descarta ao engravidar ?

Não tenho ideia

Zell escreveu:Antes de ler outras interpretações do filme, meu primeiro entendimento foi que o filme funcionava mesmo em duas camadas. A primeira, mais óbvia, são as alegorias bíblicas. O que é cada personagem só fica realmente claro no final, com o poeta se posicionando como Deus e a mãe, na minha interpretação, por momentos era Maria (no momento mais óbvio da vinda e morte de Cristo), por outros era a própria Terra. Ai temos Caim e Abel, uma alegoria bem clara e outras que durante o filme me escaparam, como a entrada do casal no quarto e a quebra do coração (pecado original?) e o "dilúvio" que agora que o Branca citou, faz sentido.

Mas pra mim tem outra camada que só funciona no nível de relacionamentos interpessoais e humanos. Eu vejo o desejo do Poeta de ser reconhecido, ser amado, e como a mãe não consegue lidar com a "fama" dele, o fato de outras pessoas fazerem parte da vida deles e ela não ter ele só pra ela. Também imagino ela entrando neste mundo de fama, dinheiro e festas além da vontade dela, e como a vida dela passa a ser dos outros por que ela é a esposa dele.

Então enquanto o filme tem essa camada religiosa e por vezes até ecológica, também vejo uma crítica à fama, a sociedade que adora celebridades e como isso afeta as pessoas ao redor delas.

Só fica claro que o filme tem mesmo outras camadas e isso só torno mais genial. Certamente um dos melhores do ano e acho dificil alguém bater.

Eu tenho lido várias teorias sobre o remédio amarelo.
Que nem ele diz no filme, tem a ver com literatura vitoriana. Eu ainda não entendi exatamente as associações que eu li, mas logo alguém explica isso de um jeito simples, hahahahaha.

Bom, vou falar aqui o que eu entendi do remédio amarelo.
Ele é uma referência ao conto The Yellow Wallpaper, um dos primeiros contos feministas que se tem conhecimento.
No conto, um casal se muda para uma casa, onde o marido impõe várias restrições à mulher, pq teoricamente ela estava se recuperando de um "surto histérico" (que na real foi uma depressão pós-parto). Ela fica oprimida dessa forma, e acaba criando uma fixação pelo papel de parede amarelo do quarto. Gradualmente, por conta das limitações e da opressão que ela sofre, ela vai perdendo a cabeça, ao ponto de se trancar no quarto amarelo, pq é naquela cor que ela se sente em paz. E ela sente também que existe uma outra mulher, presa no papel de parede do quarto.
Acho que o simbolismo é que a mãe no filme se sente oprimida. Ela quer um carinho que o Homem não dá. Ela mesma diz que Ele não ama ela, que ele nunca quer fazer sexo com ela. A gente podepensar que Deus criou o mundo (a casa), mas a mãe-natureza (a mãe) que arrumou tudo, cada detalhe da casa, do mundo. E o Homem tá tão focado no trabalho dele de criar que ele desdenha o trabalho dela, e consequentemente ela se sente inferiorizada. E enquanto inferiorizada e oprimida, ela vai tomando o remédio amarelo. É só depois que o Homem dá a ela o que ela deseja, que é amor, sexo e um bebê, que ela se sente libertada o bastante para não precisar mais do remédio amarelo.

Acho que o amarelo representa uma segurança pra ela enquanto ela se sente oprimida.

Vale lembrar que, apesar de hoje agente associar o azul com melancolia, primeiramente era o amarelo a cor da loucura, da depressão. Vale lembrar o Rei Amarelo, o livro que enlouquece as pessoas, e que serviu de base pra mesma temática lovecroftiana.
Na Rússia, por exemplo, os sanatórios eram chamados de "casas amarelas".

(mas vale debater o fato de que ela É a casa. o coração da casa, que ela sente quando encosta na parede, é o coração dela. então mesmo ela jogando o remédio na privada, ele é "engolido" pela casa.)

Achei o máximo a cena daquela "guerra" dentro da casa, o que representaria os homens devastando a natureza...sem se importarem com os "avisos" que ela dá de que não está suportando mais a invasão, falta de respeito e destruição de seu ambiente.

Tem até uma parte que mostra um dos soldados querendo protegê-la (há uma parte da população que se importa e realmente luta pela proteção da terra), mas ele é morto pela maioria.

É uma realidade. Infelizmente, quem se importa com a natureza e luta por sua proteção é um número muito pequeno que se apaga e não tem forças para lutar contra a maioria. Gostei dessa crítica à sociedade.

não conheço esse livro que o Branca citou, mas realmente, o pó amarelo era algo que trazia paz para ela.... vi em uns sites que diziam que ele poderia representar o sol, o que traria uma melhora para a Terra.

cada vez que a gente discute, eu acho que filme ainda mais incrível! as metáforas foram muito bem aplicadas.

Lenanei escreveu:mas realmente, o pó amarelo era algo que trazia paz para ela.... vi em uns sites que diziam que ele poderia representar o sol, o que traria uma melhora para a Terra.

Alívio com certeza, mas exatamente o quê, ainda é mistério pra mim.
O Sol não me parece algo pontual, pois sem ele não haveria natureza na Terra.

Lenanei escreveu:cada vez que a gente discute, eu acho que filme ainda mais incrível! as metáforas  foram muito bem aplicadas.

Só não fui novamente ao cinema por falta de tempo.

https://omelete.uol.com.br/filmes/noticia/mae-martin-scorsese-defende-filme-de-darren-aronofsky/

Eu realmente acho que quem não gostou de Mãe! foi o público preguiçoso demais pra pensar.
Galera que acha que cinema tem que ser sempre escapismo, nada de muito confuso, ou artístico, ou simbólico, ou filosófico.
E eu vi muita gente criticando o filme por ser muito pretensioso. Mas porra.. se o saldo de algo pretensioso for positivo, qual o problema?
Pessoal quer filme fácil, daqueles que somem da sua cabeça minutos depois de subirem os créditos.

Scorsese escreveu:As pessoas pareciam estar atrás de sangue, simplesmente porque o longa não pode ser facilmente definido ou interpretado ou reduzido a uma descrição de duas palavras. É um filme de terror ou uma comédia sombria ou uma alegoria bíblica ou uma fábula cautelar sobre devastação moral e ambiental? Talvez um pouco de tudo isso, mas certamente não apenas uma dessas categorias básicas.

É exatamente isso!

Fui assistir com uma garota que to saindo, a gente passou horas debatendo o filme depois, foi inclusive com ela que eu pensei na explicação da cor amarela, a gente viu vídeos do diretor e do elenco falando sobre, e o mais legal é que a conclusão que a gente chegou foi.. não importa o que deveria significar cada detalhe do filme, e sim o que ele significou pra gente, o que a gente sentiu.
Tem várias coisas que a gente não faz ideia do que significa, como o buraco no chão formando uma vagina, ou o símbolo do isqueiro, ou vários detalhes. Mas conversar sobre isso é um prolongamento da experiência do filme. Que pode ser com alguém ou apenas mental consigo mesmo.
Quem não gostou do filme é quem é preguiçoso demais pra fazer esse prolongamento.

https://exame.abril.com.br/blog/sobre-filmes-e-series/3-razoes-para-ver-o-filme-mae-mesmo-que-voce-o-odeie-depois/

Eu adorei o filme, mas eu não julgo quem não gostou. É um filme difícil mesmo é bem extremo em alguns momentos.

Eu detestei filme logo após assistir, mas depois mudei completamente meu conceito, e só não revi por falta de tempo...

quando saí da sessão do cinema as pessoas ao meu redor comentavam "que filme é esse?! não entendi nada!!"
realmente não é aquele filme fácil e escancarado de agradar a todos.
é para quem gosta dessas metáforas e tal...

Esse filme claramente foi pensado para ser assistido mais de uma vez, já que a informação essencial para o que está acontecendo só é dada no final. Ai, em uma segunda assistida, tudo faz sentido e as metáforas ficam mais claras.